terça-feira, 22 de agosto de 2017

O Brasil é um país de aparências, e nós parecemos gostar disso.

Foto: divulgação

Uma das coisas que mais me chamaram atenção na cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio 2016 foi a brilhante ideia de que cada atleta plantaria uma semente, que posteriormente viraria uma floresta. Era a tão legal floresta dos atletas. Foram depositadas cerca de 13.000 sementes. Algo extremamente simbólico.

Essa semana me deparei com uma notícia de que as sementes começaram a germinar. E o resto? Pura aparência. Nada foi feito além disso. O projeto não foi concluído por falta de dinheiro. O comitê disse que isso não estava em seu caderno de encargos. 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo foram impactadas, e provavelmente, assim como eu acreditaram no poder da ação. Mal sabem eles que o Brasil é um pais de aparências.

Os políticos aparentam estar lutando pelo povo, quando na verdade estão apenas lutando para se perpetuarem no poder e enriquecer cada vez mais.

Os artistas aparentam lutar politicamente pela sociedade, quando na verdade estão apenas defendendo os interesses de suas classes (econômicas e artísticas).

Os juízes, até mesmo os de instâncias superiores, aparentam defender a justiça, quando na verdade suas decisões só beneficiam os mesmos de sempre.

Até mesmo os jogadores, que declaram amor, beijam escudos, choram por seus pais serem torcedores de coração do time que vão defender, numa primeira oportunidade, dão as coisas ao time e buscam sua independência financeira.

Como escrevo desabafos nesse blog, que tem como tema a propaganda, não poderia deixar de abordá-la, mesmo não sendo o foco exclusivo desse texto. Difícil mesmo é citar apenas poucas aparências. As agências de propaganda aparentam muitas coisas.Só algumas delas: aparentam ser descoladas, quando na verdade são caretas. Aparentam ser ambientes dos sonhos de qualquer jovem, quando na verdade exploram boa parte deles até onde dá. Aparentam lutar pela inclusão social, racial, de gênero quando na verdade, nem mesmo dentro de seus departamentos isso acontece. Aparentam estar na vanguarda da inovação e da criatividade, quando na verdade continuam fazendo as mesmas coisas há décadas. Continuam aparentando até mesmo trazer resultado ao cliente dessa forma.

Até nós mesmos somos aparências, sem as vezes perceber isso. Para sermos descolados temos que ter o mais novo celular, mesmo que isso nos custe horas e horas de trabalho; temos que usar roupas de marcas descoladas, mesmo que essas usem trabalho escravo; temos que viajar para países legais, pois viajar para destinos menos comum vai nos deixar com a sensação de inferioridade junto a nossos amigos; temos que ter um caro maneiro, mesmo que isso nos faça perder uma eternidade no trânsito; temos que trabalhar numa agência de São Paulo, pois no interior não podemos esbanjar nossos Leões; temos que parecer ganhar muito dinheiro, mesmo que isso nos custe nossa saúde, do corpo e da mente; precisamos aparentar que estamos consumindo, cada vez mais, qualquer coisa. Temos que parecer ser legais.

Em muitos casos, essa aparência já não é uma opção, é uma obrigação. Não basta ser, tem também que parecer. Não basta sermos honestos, temos também que parecer honestos. Não basta sermos batalhadores. Temos que parecer batalhadores. Não basta ajudarmos, temos que parecer ajudar. Não basta estarmos felizes com nossa profissão, temos que parecer ser bem-sucedidos. Não basta sermos bons, temos que aparentar sermos bons. Caso contrário, ninguém irá nos perceber. Nossa aparência, ou a falta dela, não nos levará a lugar algum.

E assim caminha o Brasil, parecendo ser um país civilizado, alegre e que nada nos afeta. O importante é manter as aparências. 

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